sexta-feira, dezembro 08, 2006

Somália

A Somália figura entre os países mais pobres do mundo, onde, conforme terá sido admitido pelo próprio Governo, 89 por cento das crianças não usufruem de instrução primária. Assim, enfrenta actualmente uma grave crise alimentar e necessita de ajuda internacional, uma vez que a fome afecta 1,8 milhões de somalis.

A Somália é considerada um Estado falhado, onde reina a anarquia desde 1991. As autoridades de transição, sem poder real, estão entregues a um frágil governo interino que não tem sido capaz de manter a ordem no país. Até agora, nas ruas das principais cidades mandavam as milícias de diferentes senhores da guerra de clãs rivais. A única lei era a da bala.

Nos últimos tempos o movimento islamita da UTI (União dos Tribunais Islâmicos) tem controlado várias zonas do país, inclusivamente a capital – Mogadíscio. O presidente Yusuf (governo interino) defende, desde então, o envio de uma força de paz mas os islamitas opõem-se, dizendo que podem garantir a segurança do país.

Não obstante as semelhanças da UTI com os taliban no que concerne às medidas radicais e rígidas impostas à população, passou a ser possível passar dias na capital sem ouvir um tiro, as armas e o crime começaram a diminuir, as pessoas deixaram de ter medo de sair à rua depois de escurecer, os preços nos mercados baixaram e as ruas foram limpas. A população gostou e aplaudiu os novos senhores.

O responsável da ONU no país diz que a vida nas zonas sob controlo dos islamitas melhorou e entre os sinais tranquilizadores está o facto de haver cada vez mais alunos nas escolas, particularmente raparigas. “Em 15 anos, ninguém foi capaz de fazer o que eles conseguiram em 15 dias”.



Mas a instabilidade interna estende-se aos países vizinhos. A Etiópia tem apoiado militarmente as forças dos Governo enquanto que a Eritreia já manifestou o seu apoio à UTI. A situação actual na Somália poderá transformar-se num conflito regional entre velhos inimigos e aliados recentes, que têm trocado palavras azedas.

Com base em fontes diplomáticas, a ONU crê que perto de 8000 etíopes e 2000 eritreus se encontram actualmente em território somali, a apoiar respectivamente o Governo internacionalmente reconhecido e o grupo islâmico.

Segundo o relatório da ONU, a Etiópia, o Uganda e o Iémen estão solidários com o frágil regime que as Nações Unidas reconhecem, enquanto a UTI conta com o apoio do Irão, da Líbia, da Arábia Saudita e dos Estados do Golfo.

Este mês (Outubro) tem sido o primeiro em mais de 10 anos que a Somália volta a atrair as atenções internacionais, depois de em 1992 ter sido palco de uma chamada intervenção humanitária das Nações Unidas, apadrinhada por Washington.

Nota a salientar:
Dada a situação instável na Somália e o controlo de parte do país pelo movimento islâmico radical da UTI (semelhante aos taliban), supõe-se, hipoteticamente, que a Al-Qaeda poderá vir a estabelecer-se aí, tal como aconteceu com o Afeganistão. Caso isto venha a acontecer, é provável que os Estados Unidos intervenham directamente no conflito, com ou sem o apoio da ONU.

Sandra Bastos, trabalho realizado no âmbito da disciplina de Informação Internacional

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